quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Câncer e malária norteiam pesquisas de grupo de química orgânica de São Carlos


Cristiane Sinatura / USP Online
cristiane.sinatura@usp.br

No fundo do mar. É lá que podem estar substâncias importantes para o tratamento de doenças como câncer, tuberculose, malária, leishmaniose e mal de Chagas. E é lá que o Grupo de Química Orgânica de Produtos Naturais (GQOPN), do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, concentra parte de suas pesquisas. O objetivo é a descoberta de substâncias químicas presentes em invertebrados e micro-organismos, com potencial de aplicação farmacológica e biotecnológica.

Membros do grupo mergulharam no litoral paulista e baiano e coletaram amostras de invertebrados como esponjas, ascídias, octocorais e briozoários, conforme conta o professor Roberto Berlinck, coordenador do GQOPN. Gradualmente, as amostras estão sendo submetidas a testes em outras instituições acadêmicas, com o intuito de identificar substâncias com potencial farmacológico. E quando elas são enviadas de volta aos laboratórios do IQSC, o GQOPN busca isolar as substâncias com atividades farmacológicas, para compreender por que algumas são ativas e outras não.

Até o momento, o estudo mais promissor realizado pelo grupo aconteceu em parceria com a Universidade da Columbia Britânica (UBC) no Canadá, entre 1997 e 1998. Foram isoladas substâncias da ascídia Didemnum granulatum, coletada no litoral paulista. Estas substâncias provavelmente se associam à filtração de raios ultravioletas, como um mecanismo de proteção da ascídia, cujo habitat são superfícies aquáticas expostas à luz.
Em testes laboratoriais, duas substâncias específicas, a granulatimida e a isogranulatimida, apresentaram alto potencial de inibição do desenvolvimento de células cancerígenas, de maneira bastante seletiva, sem efeitos tóxicos aparentes. Aprovada em 2001, a patente dos estudos foi licenciada a uma indústria farmacêutica canadense, após concordância da USP e UBC. Atualmente, as substâncias seguem em fase de testes em laboratório.

O professor Berlinck conta que, no Brasil, existem apenas dois medicamentos regulamentados produzidos a partir de organismos da biodiversidade nacional. Um deles, o captopril, indicado para pressão alta, foi desenvolvido a partir do veneno da jararaca. O outro é o fitofármaco Acheflan, de aplicação anti-inflamatória, produzido com extrato da planta Cordia verbenacea, conhecida como erva-baleeira. Para ele, a fauna da costa brasileira ainda é pouco conhecida e explorada do ponto de vista químico e farmacológico, um dos motivos que levaram o GQOPN a centrar suas pesquisas no litoral.

Sobre a aplicação farmacológica de novas substâncias no tratamento de doenças específicas, o professor explica que “tanto o câncer como a tuberculose necessitam de uma busca contínua por novas alternativas, por conta da aquisição de resistência aos medicamentos atuais. Já doenças como malária, mal de Chagas e leishmaniose são típicas de populações menos favorecidas - o que quer dizer que há pouco investimento da indústria farmacêutica na produção de medicamentos para o tratamento destas doenças, por conta do baixo retorno financeiro”.

Os projetos do GQOPN envolvem alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, e acontecem em parceria com outras instituições, dentre as quais estão a UFSCar, a UFRJ, a UFPR, a Unesp em Araraquara e a USP em Ribeirão Preto. Mais informações sobre as pesquisas do GQOPN podem ser obtidas na página do grupo na internet.

FONTE:http://www4.usp.br/index.php/ciencias/17366-cancer-e-malaria-norteiam-pesquisas-de-grupo-de-quimica-organica-de-sao-carlos