quinta-feira, 25 de junho de 2009

Notícias-Combustíveis fósseis podem matar oceanos


O verdadeiro perigo é invisível, impossível de fotografar, mas fácil de medir: é o aumento da acidez dos oceanos

Fernando Reinach é biólogo, professor titular do Instituto de Química da USP, diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios e foi presidente da CTNBio em 1999. Artigo publicado em “O Estado de SP”:

Imagine que o homem nunca tivesse derramado uma gota de petróleo no oceano.

Apesar das fotos de pássaros embebidos em óleo serem as imagens que vêm à mente quando imaginamos o efeito disso, hoje sabemos que estes desastres ecológicos não são a maior ameaça.

O verdadeiro perigo é invisível, impossível de fotografar, mas fácil de medir: é o aumento da acidez dos oceanos.

Há décadas foi demonstrado que a queima de combustíveis fósseis provoca aumento de gás carbônico na atmosfera, mas faz somente poucos anos que os cientistas desconfiam que seu aumento pode estar também acidificando os oceanos.

A ciência por traz deste efeito é simples. Se você coloca em um copo de água gotas de fenolftaleína, ela se torna ligeiramente rósea (a fenolftaleína é um indicador de acidez que também era usado como laxante).

Aí você usa um canudo para assoprar na água fazendo bolhas. Aos pouco a água se torna incolor, indicando a acidificação da água.

O que acontece é que o gás carbônico (CO2) sai dos nossos pulmões, reage com a água e forma ácido carbônico, que acidifica a água e muda a cor da fenolftaleína. É isso que os cientistas acreditam estar acontecendo nos oceanos.

Desde que começamos a queimar petróleo, em 1850, a concentração de CO2 na atmosfera vem aumentado, e com isso mais CO2 se dissolve no mar e aumenta sua acidez.

Em 1800, o pH do mar era 8,16, hoje é de 8,05 e pode chegar a 7,9 no final do século. Isto significa que a acidez vai quase dobrar em 300 anos.

O que os cientistas investigam é como o aumento da acidez afeta os seres vivos que habitam os oceanos.

Provavelmente os mais afetados são os que têm carbonato de cálcio em seu esqueleto, como as conchas, os corais, os ouriços e outros seres microscópicos.

A razão é simples. Se você já examinou o interior de um tubo de água antigo deve ter observado que ao longo dos anos se acumula um precipitado branco.

É o carbonato de cálcio. Esta é uma das substâncias que estes animais utilizam em seus esqueletos. Para remover o carbonato do tubo basta lavar com uma mistura de água e vinagre, já que o carbonato é facilmente dissolvido no meio ácido criado pelo vinagre.

Os cientistas acreditam que a acidificação dos oceanos provoca um efeito parecido nos animais.

Mesmo um pequeno aumento da acidez pode dissolver parte dos esqueletos dos animais ou dificultar sua formação. Este fenômeno, ao longo dos séculos, pode levar à extinção uma grande parte da biodiversidade marinha.

Parece não haver dúvida de que a acidificação dos oceanos está ocorrendo, o que não se sabe é se o seu grau é suficiente para afetar a sobrevivência dos animais.

Os cientistas do Painel Internacional de Mudanças Climáticas sinalizaram que a acidificação dos oceanos é das suas principais preocupações.

Se você usa etanol em vez de gasolina, e cada vez que enche o tanque se satisfaz por combater o aquecimento, você tem um segundo motivo de satisfação: utilizando energias renováveis, você também ajuda a preservar os recifes de coral.

Mais informações em Sick Seas, na Nature, volume 442, página 978, de 2006

fonte:Jornal da ciência de 18 de Outubro de 2006.

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